sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Lúpus e a Gravidez

Uma vez que o lúpus afeta principalmente mulheres jovens, a gravidez sempre passa a ser uma questão crucial. Há anos atrás, todos os textos médicos diziam que pacientes com lúpus não poderiam ter filhos e, se ficassem grávidas, deveriam realizar abortos. Obviamente, essas conclusões antigas estavam erradas. Hoje em dia, 50 porcento de todas as gestações com lúpus são completamente normais, e 25 porcento dão à luz bebês prematuros. A perda do feto, devido a abortos espontâneos, ou a morte do bebê são responsáveis pelos 25 porcento restantes. Embora nem todos os problemas da gravidez com lúpus tenham sido resolvidos, ela é possível, e o nascimento de crianças normais é a regra.

Mesmo sendo perfeitamente possível que pacientes com lúpus tenham filhos, a gravidez pode não ser fácil. É importante notar que apesar de muitas gestações com lúpus serem completamente normais, todas devem ser consideradas de "alto risco". "Alto risco" é o termo usado comumente pelo obstetras para indicar que problemas podem ocorrer e que devem ser antecipados. Grávidas com lúpus devem ser acompanhadas por obstetras que estejam inteiramente familiarizados com gestações de alto risco, e que trabalhem em conjunto com o médico principal da mulher (o que acompanha o lúpus). O parto deve ser planejado para um hospital que disponha de uma unidade especializada no tratamento de recém-nascidos prematuros. Mamães com LES não devem tentar o parto em casa, nem devem estar excessivamente preocupadas com parto "normal", uma vez que complicações durante o parto são freqüentes. Contudo, sob severa observação, os riscos para a saúde da mãe são diminuídos, e o nascimento de bebês saudáveis é perfeitamente possível.

A gravidez vai despertar o meu lúpus?

Apesar de alguns textos médicos mais antigos sugerirem que crises de LES são comuns na gravidez, estudos recentes indicam que essas crises são raras e normalmente facilmentes tratadas. A verdade é que, de 6 a 15 porcento dos pacientes com lúpus atualmente vão experimentar uma melhora nos sintomas do lúpus durante a gravidez. As crises normalmente ocorrem durante o primeiro ou segundo trimestre, ou durante os dois meses imediatamente após o parto. A maioria das crises tende a ser suave. Os sintomas mais comuns dessas crises são artrite, RASHES e fadiga. Aproximadamente 33 porcento das pacientes com lúpus vão ter uma diminuição do número de plaquesta no sangue durante a gravidez, e cerca de 20 porcento vão ter um aumento ou nova ocorrência de proteína na urina. Mulheres que concebem após 5-6 meses de remissão da doença são menos suscetíveis à uma crise do lúpus do que aquelas que ficam grávidas quando o lúpus está ativo. Nefrite lúpica antes da concepção também aumenta as chances de se ter uma crise durante a gravidez. É importante distinguir os sintomas de uma crise do lúpus das mudanças normais do corpo que ocorrem durante a gravidez. Por exemplo, o fato dos ligamentos que unem as juntas normalmente se tornarem mais suaves na gravidez, favorecem o acúmulo de fluidos nas juntas, especialmente nos joelhos, o que causa inchaços. Apesar disso sugerir um aumento na inflamação devido ao lúpus, também pode simplesmente ser o inchaço que normalmente ocorre na gravidez. Similarmente, LUPUS RASHES podem aparentar uma piora durante a gravidez, mas isto é usualmente devido a um maior fluxo de sangue para a pele, comum na gravidez (o 'tom rosado' de uma grávida). Muitas mulheres também podem experimentar o nascimento de cabelo na gravidez, seguido de uma grande queda de cabelo após o parto. Embora a queda de cabelos seja um sintoma da atividade do LES, é mais um resultado das mudanças que ocorrem durante uma gravidez normal.

Qual é o melhor momento para ficar grávida?

A resposta é simples: quando você estiver mais saudável. Durante a remissão, as mulheres têm muito menos problemas do que quando a doença está ativa. Os bebês ficam bem melhores, e todos se preocupam menos.

Regras de boa saúde são essenciais: coma bem, tome os medicamentos conforme a prescrição, visite seu(s) médico(s) regularmente, não fume, não beba e, certamente, não use drogas.

Por quê visitas freqüentes ao médico são tão importantes numa gravidez com lúpus?

Visitas freqüentes ao médico são importantes em qualquer gravidez de alto risco, isso porquê muitos problemas podem ser prevenidos, ou tratados mais facilmente, se observados no início.

Cerca de 20 porcento das pacientes com lúpus têm um súbito aumento da pressão sangüínea, de proteína na urina, ou ambos durante a gravidez. Isto é chamado toxemia da gravidez (ou pré-eclâmpsia, ou hipertensão induzida pela gravidez). Essa é uma situação muito séria requerendo tratamento imediato e, usualmente, um parto prematuro. A toxemia é mais comum em mulheres mais velhas, negras, com gêmeos, com problemas nos rins, com pressão alta, e em mulheres que fumam. A quantidade de SERUM COMPLEMENT e de plaquetas no sangue podem estar anormais nesses casos. Uma vez que os níveis de COMPLEMENT e de plaquetas também são anormais durante as crises de LES, pode ser difícil para o médico ter certeza de que não é uma crise que está causando esses sintomas. Se a toxemia é prontamente tratada a mulher não fica em perigo, mas há um grande risco de morte do bebê se isso não acontecer. Se a toxemia é ignorada ambos, a mulher e seu bebê, ficam em perigo.

Durante o progresso da gravidez é prudente que o médico verifique o crescimento do bebê através de ultra-sonografias (que são inofensivas). O médico também deve checar com freqüência o batimento cardíaco do bebê. Anormalidades no crescimento do bebê ou no seu batimento cardíaco podem ser os primeiros sinais de problemas que podem ser tratados.

Posso ingerir medicamentos durante a gravidez?

É sempre imprudência ingerir medicamentos desnecessários durante a gravidez. Contudo, medicamentos necessários não devem ser descontinuados.

É seguro usar a maioria dos medicamentos normalmente ingeridos por pacientes com LES durante a gravidez. Prednisona, Prednisolona e, provavelmente, methylprednisolona (Medrol) não atravessam a placenta e são seguros para o bebê. Específicamente, dexamethasona (Decadrol, Hexadrol) e betamethasona (Celestone) atingem o bebê e são usados SOMENTE quando é necessário tratar também do bebê. Por exemplo, esses medicamentos podem ser usados para ajudar os pulmões do bebê a madurar mais rapidamente se o bebê vai ser prematuro. Aspirina é seguro; é freqüentemente usada para proteger contra a toxemia da gravidez.

Estudos preliminares sugerem que azathioprine (Imuran) e hidroxicloriquina (Plaquinol) não afetam os bebês, mas isso ainda não é confirmado. Cyclophosphamide (Cytoxan) é definitivamente nocivo se ingerido durante os três primeiros meses de gravidez.

O que dizer sobre o tratamento profilático (preventivo) com Prednisona?

Alguns poucos médicos acham que toda grávida com lúpus deveria ingerir pequenas doses de Prednisona para prevenir o aborto. Contudo, ainda não há dados confirmados de que isso é necessário. Da mesma forma, alguns médicos acham que esteróides devem ser ministrados ou terem as doses aumentadas após o nascimento do bebê para evitar 'crise pós-parto'. Mais uma vez, não há evidência de que isso seja necessário na maioria dos casos.

O que são anticorpos antifosfolipídeos e porquê são tão importantes?

Cerca de 33 porcento de pacientes com lúpus têm anticorpos que interferem com as funções da placenta. Esses anticorpos são chamados antiphospholipid anticorpos, o anticoagulante lúpico ou anti-cadiolipina. Esses anticorpos podem causar coágulos sangüíneos, incluindo coágulos na placenta, que impedem o seu crescimento e funcionamento normais. Isso ocorre normalmente durante o segundo trimestre. Uma vez que a placenta é a passagem dos nutrientes da mãe para o feto, o crescimento do bebê é desacelerado. O bebê pode nascer neste momento e será normal se estiver grande o bastante.

O tratamento para pacientes com lúpus que tenham estes anticorpos ainda está sendo testado. Aspirina, Prednisona, Heparin e PLAMAPHERESIS têm sido sugeridos como possíveis terapias. Contudo, mesmo com o uso de tais medicamentos, estes anticorpos ainda assim podem conduzir para um aborto.

Meu bebê será normal?

A prematuridade é o maior perigo para o bebê. Cerca de 50 porcento das gestações com lúpus terminam antes dos 9 meses, usualmente devido às complicações apresentadas acima. Bebês nascidos após 30 semanas ou com mais de 1,2 Kg crescem normalmente. Mesmo bebês com cerca de 800 g têm sobrevivido e com saúde em todos os aspectos; mas o resultado é incerto para bebês deste tamanho. Não há nenhuma anormalidade congênita que ocorra apenas em bebês de pacientes com lúpus (exceto como descrito abaixo), e nenhuma freqüência anormal de retardamento mental.

Meu bebê terá lúpus?

Cerca de 1/3 das pacientes com lúpus têm um anticorpo conhecido como anti-Ro ou anti-SSA. Aproximadamente 10 porcento das mulheres com anti-Ro, ou cerca de 3 porcento de todas as mulheres com lúpus, vão ter um bebê com uma síndrome conhecida como lúpus neo-natal. Lúpus Neo-natal não é LES. Ele consiste de um(a) RASH passageiro(a), anormalidades na contagem sangüínea também passageiras, e um tipo especial de anormalidade no batimento cardíaco. Se a anormalidade nos batimentos cardíacos ocorrer, o que é muito raro, ela é passível de tratamento; mas é permanente. O lúpus neo-natal é o único tipo de anormalidade congênita encontrada em crianças cujas mãe tem lúpus. Bebês com lúpus neo-natal que não têm o problema no coração, não apresentam nenhum traço da doença já pelos 3-6 meses de vida, e ela não reaparece. Mesmo bebês com a anormalidade nos batimentos cardíacos crescem normalmente. Se uma mão teve um filho com lúpus neo-natal, há cerca de 25 porcento de chances de dar à luz outra criança com o mesmo problema.

Vou precisar fazer uma cesariana?

Bebês muito prematuros, ou que mostrem sinais de estresse, bebês de mães que tenham baixo número de plaquetas, e bebês de mães que estejam muito doentes são quase sempre nascidos de cesariana. Este é, normalmente, o método mais rápido e seguro de nascimento para esses casos. Normalmente, a decisão sobre o tipo de parto não é tomada com antecipação devido às circunstâncias específicas do momento do parto.

Posso amamentar?

Apesar da amamentação ser possível para pacientes com lúpus, o leite materno pode não descer se o bebê for muito prematuro porque eles não são fortes o bastante para sugar, e assim, não podem ingerí-lo. Contudo, o leite pode ser bombeado do seio para alimentar um bebê prematuro que não seja forte para sugar, isso se a mãe assim desejar. Plaquinol e as drogas citotóxias (Cytoxan, Imuran) passam para o bebê através do leite. Alguns medicamentos, como a Prednisona, podem impedir a produção do leite. Se você estiver ingerindo algum medicamento é melhor não amamentar, mas se o seu médico permitir você pode fazê-lo.

Quem vai tomar conta do bebê?

Futuros pais não perguntam normalmente o que vai acontecer após o nascimento do bebê se a mãe estiver doente e incapacitada de cuidar da criança. Já que é possível que uma paciente com lúpus tenha futuros períodos de doença, é prudente considerar a possibilidade e ter planos alternativos para os cuidados da criança (esposo, avós etc.) se necessários


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